Aqui estou eu depois de séculos sem aparecer... na verdade tenho que admitir que fico ligeiramente decepcionada comigo mesma por ter deixado um pouco de lado meu blog. Principalmente com tantas coisas pra contar...
Falando nisso, estou aqui para homenagear meu ídolo nos textos em estilo de crônicas: Antonio Prata. Sim, ok, ele é filho do Mário Prata, aquele escritor de novelas da Globo... mas, além disso, é um dos melhores escritores que conheço!
O cara consegue escrever um mega texto legal sobre uma coisa simples a que assiste despreocupadamente na TV.
Conheci ele através da revista Capricho (sim, eu lia a Capricho! Quem não lia quando era mais nova? E as derivadas: Atrevida, Todateen, etc? Que atire a primeira pedra quem não fazia isso...). na companhia da minha amiga Talita e, obviamente, a alegria era imensa ao me deparar sempre, ao final de cada edição, com um texto do Antonio Prata.
Obviamente podemos perceber a diferença entre os textos da Capricho com os textos que ele escreve hoje (http://antonioprata.folha.blog.uol.com.br/). Mas é sempre com a mesma leveza e conteúdo, portanto, agradeço imensamente por isso!
Completando a tietagem, essa minha mesma amiga Talita ainda me deu de presente de aniversário o novo livro dele: "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" o qual estou adoraaando!
Por isso, segue um dos textos que mais curto dele (ainda não terminei de ler o livro, então com certeza surgirão outros). Esse texto me marcou muito porque é uma sensação que tive por volta dos 11 anos. E foi uma sensação muito forte, que nunca mais tive, mas me marcou. Qual não foi a surpresa ao me deparar com este texto dele descrevendo essa exata sensação? Sensacional!!!
Por isso, segue minha homenagem ao Antonio Prata! Valeu por me inspirar e ser um escritor sensacional!
Enjoy it!
"Os Outros"
"Você não acha estranho que existam os outros? Eu também não achava, até anteontem, quando tive o que, por falta de nome melhor, chamei de SCA: Súbita Consciência da Alteridade.
Estava no carro, esperando o farol abrir, e comecei a observar um pedestre, vindo pela calçada. Foi então que, do nada, senti o espasmo filosófico, a fisgada ontológica. Simplesmente entendi, naquele instante, que o pedestre era um outro: via o mundo por seus próprios olhos, sentia um gosto em sua boca, um peso sobre seus ombros, tinha antepassados, medo da morte e achava que as unhas dos pés dele eram absolutamente normais - estranhas eram as minhas e as suas, caro leitor, pois somos os outros da vida dele.
O farol abriu, o pedestre ficou para trás, mas eu não conseguia parar de pensar que ele agora estava no quarteirão de cima, aprisionado em seus pensamentos, embalado por sua pele, tão centro do Cosmos e da Criação quanto eu, você e sua tia-avó.
Sei que o que estou dizendo é de uma obviedade tacanha, mas não são essas as mais difíceis de enxergar? A morte, por exemplo. Você sabe, racionalmente, que um dia vai morrer. Mas, cá entre nós: você acredita mesmo que isso seja possível? Claro que não! Afinal, você é você! Se você acabar, acaba tudo e, convenhamos, isso não faz o menor sentido.
As formigas não são assim. Elas não sabem que existem. E, se alguma consciência elas têm, é de que não são o centro nem do próprio formigueiro. Vi um documentário, ontem de noite. Diante de um riacho, algumas saúvas africanas se metiam na água e formavam uma ponte, com seus próprios corpos, para que as outras passassem. Morriam afogadas, para que o formigueiro sobrevivesse.
Não, nenhuma compaixão cristã brotou em mim naquele momento, nenhuma solidariedade pela formiga desconhecida. (Deus me livre, ser saúva africana!) O que senti foi uma imensa curiosidade de saber o que o pedestre estaria fazendo naquela hora. Estaria vendo o mesmo documentário? Dormindo? Desejando a mulher do próximo? Afinal, ele estava existindo, e continua existindo agora, assim como eu, você, o Bill Clinton, o Moraes Moreira. São sete bilhões de narradores em primeira pessoa, soltos por ai, crentes de que se Deus existe, é conosco que virá puxar papo, qualquer dia desses. Sete bilhões de mundinhos. Sete bilhões de chulés. Sete bilhões de irritações, sistemas digestivos, músicas chicletentas que não desgrudam da cabeça e a esperança de que, no mês que vem, ganharemos na loteria. Até a rainha da Inglaterra, agorinha mesmo, tá lá, minhocando as coisas dela, em inglês, por debaixo da coroa. Não é estranhíssimo?" - Texto de Antonio Prata publicado em "Meio Intelectual, Meio de Esquerda". Leia mais em http://antonioprata.folha.blog.uol.com.br/
Abs,
Aline - Chica
Nenhum comentário:
Postar um comentário